No olhar silencioso
Daquela mulher negra
Cai uma coisa que ninguém quer saber
Nem os seres julgados corações Celestinos...
No olhar silencioso
Daquela mulher negra
Mulher de trouxa de panos velhos de lamurias,
Cai um celeiro de lembranças amargas,
Lembranças dos seus filhos
Cuja terra consumiu não os deixou passar a primavera
Dos seus amados cujo álcool enferma
Dos seus amigos que odeia a paz
Embriagados pelo mal dizem:
O que faremos com esta tola paz?!...
No olhar silencioso
Daquela mulher negra
Negra minha mãe,
Cai algo com perfume de eternidade,
Lembrança que o tempo não consegue delir
Caem lembranças de destroços calados
Que domem sem acordar
Nos bosques, nos rios, nas montanhas,
E nos campos sem sonho de paz
No silencio do olhar
Daquela mulher negra,
Correm inundações de lágrimas,
Lágrimas de um passado assombrado
Ai! Aiwe! Que pena da minha doce velha!
Nas noites de solstício
Revive o passado
Sem dar um único tiro de palavras
Com os seus olhos sem paz,
Solta um cântico de lágrimas,
Pela sua dor e pelo seu amargo passado!
No anúncio do novo dia pelas aves,
Põe-se de joelhos nas cinzas,
Leva o seu olhar para os Céus,
Para lá dos anjos e arcanjos,
Coberta de sacos,
Pede misericórdia ao seu Redentor,
Pelos seus vizinhos ricos no ódio
E pela sua partida um dia,
Para além da vida dos sonhos,
Onde a vida se chama só vida...
No olhar silencioso
Daquela mulher negra
Negra e sem paz!...«KILON, O PROFETA»